Por O Popular
A história da morte trágica de um farmacêutico em Catalão, em meados dos anos 30, pode ir parar do outro lado do mundo, em Hiroshima, no Japão. A tragédia protagonizada pelo coronel Rufino e o farmacêutico Antero inspirou a ópera 14ª Estação, escrita por Miguel Jorge e musicada por Estércio Marquez Cunha. A obra, porém,nunca chegou a ser executada porque o compositor usou lápis para fazer o trabalho e os músicos não conseguiam entender o manuscrito.
A ópera foi revisada por dois alunos do curso Técnico em Instrumento Musical, do Instituto Federal de Goiás (IFG), Andrey Dias Lopes, de 19 anos, e Danilo Ribeiro Miranda, de 18, e o trabalho foi aprovado no Simpósio Humanidade e Artes para a Paz, que antecede as comemorações dos 70º aniversário do bombardeio atômico. Eles são estudantes do 4º ano e estão finalizando o curso do ensino médio.
Os alunos, que são bolsistas do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e recebem R$ 100 por mês, tentam agora arrecadar recursos para chegar a Hiroshima até o dia 2 de agosto, data do início do congresso. Só a passagem custa cerca de R$ 5 mil e a hospedagem está estimada em R$ 300 por dia. A ajuda de custo do IFG para participação em eventos é de R$ 800, mas nem mesmo esse recurso os alunos conseguiram garantir porque o edital para solicitar o benefício ainda não foi aberto.
Essa não é a primeira vez que o projeto de Andrey e Danilo é aprovado para ser apresentado em eventos científicos. Eles perderam a chance de expor o trabalho em um seminário realizado na Universidade Federal do Acre porque não conseguiram dinheiro para chegar a Rio Branco. “Os R$ 100 da bolsa eu uso para pagar o notebook que comprei para desenvolver o projeto”, conta Andrey.
Mérito
(Foto : Ricardo Rafael)
A bolsa é o único investimento do IFG no projeto, que é orientado pela professora Marina Machado Gonçalves. Segundo ela, é muito raro trabalhos de alunos de ensino médio serem aceitos em congressos científicos internacionais. “Se isso acontece, certamente há um mérito muito grande, pois passam por crivo de pesquisadores de peso”, observa a professora.
O projeto de Andrey e Danilo consistiu em corrigir os erros da primeira edição eletrônica da ópera 14 Estações, que foi feita há 5 anos pela professora Marina. A partir do manuscrito do compositor, os alunos corrigiram os erros da primeira edição e tornaram a obra eletrônica o mais próximo possível da versão original, feita a mão por Estércio Marquez Cunha. Com isso, a obra ficou mais acessível aos intérpretes e poderá ser executada no futuro.
A aluna Karla Oliveira Silva, de 18 anos, também teve um projeto aprovado no simpósio japonês. Ela está digitalizando todo o acervo de banda e coro do IFG e os 10% concluídos até agora podem ser apresentados no evento, caso a aluna consiga recursos para chegar a Hiroshima.
Duas obras inspiradas na história
A ópera 14ª Estação conta a história do farmacêutico Antero, torturado e morto a mando do coronel Rufino na cidade goiana de Catalão na década de 1930. Na obra, a população queria que Antero, um farmacêutico muito querido, se tornasse prefeito da cidade que era dominada pelo coronel Rufino.
Antero é acusado pelo coronel de matar o capataz de sua fazenda, ao lhe receitar veneno de rato no lugar de remédio. O próprio coronel julga e condena o farmacêutico, que é torturado em 14 locais diferentes, uma referência às estações da via crúcis de Jesus Cristo.
A história de Antero também foi relatada no livro Herança de Sangue – Um Faroeste Brasileiro, do escritor Ivan Sant’Anna. Segundo o autor, Antero foi amarrado, espancado e teve a língua e os olhos perfurados por um punhal antes de ser morto com uma faca no coração.
Divergências
Tema de reportagem do POPULAR em dezembro de 2012, o livro conta que o farmacêutico se chamava Antero da Costa Carvalho e teria sido morto em 16 de agosto de 1936 por ter mandado matar o fazendeiro Albino Felipe do Nascimento em uma tocaia.
Na ópera, ele recebe o nome de Antero dos Santos Silva, condenado por envenenar com remédio para matar ratos o capataz do coronel Rufino, conhecido pelo nome de Galdino Pereira. Em ambas as histórias, Antero é torturado até a morte.
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