HISTORIA DE VIDA DE ANTERO O SANTA POPULAR DE CATALAO

28 de junho

Antero: o santo popular vai aos palcos

A estreia será do dia 15 para o dia 16 de agosto, a meia noite, representando o dia em que Antero foi morto, 16 de agosto de 1936.

Quem não gosta de ouvir histórias? Quem nunca parou ao final da tarde para contar uma história para um filho, um vizinho, ou para um amigo? Contamos nossas próprias histórias, contamos as histórias do outro, e vez ou outra, a história do outro, tornam-se nossas histórias. Algumas compartilhadas publicamente, outras guardadas em nosso íntimo. Muitas dessas histórias são contadas aos mais jovens. Tornando-se um elo daqueles que estão no presente com os seus antepassados, de um período que em sua memória se apresenta como melhor que o atual.

A cidade de Catalão-GO possui inúmeras histórias que não caíram no sono do esquecimento de seus contadores. São contatas e recontadas cotidianamente ao longo dos anos. Algumas acabam tornando-se “causos” carregados de vivências, experiências, e mistérios. A história de Antero faz parte das inúmeras memórias que a cidade resguarda. Antigo morador da cidade de Catalão-GO foi morto na década de 1936 por ter sido acusado de assassinar Albino Felipe. Antero não recebeu julgamento formal, foi acusado, preso e retirado por jagunços e alguns populares da cadeia, foi linchado e morto.

Interior da Capela de Antero.

A partir do episódio de sua morte, várias outras histórias surgiram, tendo como episódio central a figura de Antero. De um sujeito comum, passou a ser visto como personagem de dado período histórico, despertando em vários pesquisados o interesse pelo caso. Entre eles destacamos Luís Palacín Gomes e Juarez Costa Barbosa Fayad (1994) que, em seus estudos, buscam trazer à luz aspectos intrínsecos, e muitas vezes próprios da cidade de Catalão-GO, detendo-se em especial, em sua história política. Cornélio Ramos (1997), por sua vez, memorialista, se debruçou sobre as memórias e narrativas dos moradores de Catalão, os quais cresceram ouvindo as inúmeras histórias em torno de Antero. Ramos recorre às histórias contadas e experiências, eternizando a importância do local e das pessoas que vivem ou viveram nela. 

Para (GOMES; FAYAD, 1994) é impossível tratar da historiografia de Catalão sem nos ater ao assassinato de Antero, “seja pela dimensão de barbarismo e violência, seja pela aura de misticismo que envolveu esse misto de poeta, farmacêutico e ‘santo’” (p. 182). De contra partida, os mesmos autores assinalam a dificuldade em abordar o assunto, uma vez que aqueles que se aventuram podem cair no quase irreversível “buraco negro” do universo histórico, isso, devido a pouca informação de documentos que atestam sobre o caso. Sendo necessário recorrer aos relatos e refúgios da memória.

Túmulo de Antero.

A história de Antero também me chamou atenção, em específico quando constatei que esta permeia o mundo dos moradores da cidade. É quase que prosaico ouvir dos mais antigos que a mesma carrega em sua história uma saga de sangue. Corriqueiro também o é, tais moradores não pronunciarem nomes e sobrenomes de algumas famílias da cidade, ou, quando muito, as proferirem sussurrando, em um som quase que incompreensível.

Interessar-me sobre os “causos” e histórias que envolvem a morte de Antero não foi o suficiente para tomar o caso como fonte de estudo. O mesmo, além de está impregnado de mistérios e explicações conturbadas, falta material que redimensione ao acontecido. E mais uma vez estamos diante da labuto do próprio historiador, como já pontuado por teóricos, ir atrás das minúcias, do negligenciado, dos “não ditos” pela história dita oficial, ou seja, “criar” as próprias fontes. Dessa forma, vimos que é necessário recorrer não apenas aquilo que está fixo e datado no tempo, e que diz sobre um passado, mas buscar aquilo que ocupa lugar no marginal, que pertence ao povo e que diz respeito sobre o povo; que se manifesta como algo móvel e indeciso, ante a tentativa de uniformidade de julgamento.

O ano da morte de Antero pertence, sim, ao passado já vivido, mas os caminhos que a história de morte tomou, se descobre no presente, uma vez que tal episódio tornou-se o marco central da santificação popular de Antero, pois, hoje, o mesmo é visto por parte da população local como mártir da cidade de Catalão. Deste modo, a investigação não se finda num evento do passado, e sim nos caminhos possíveis que a história de morte percorreu, entre elas, o processo de santificação popular.

Sendo assim, a investigação histórica sobre o caso se assenta sobre o solo da religiosidade popular, nisto quando recorremos não apenas as manifestações de fé dos devotos como formas de narrar a história e a santidade de Antero, mas as obras escritas sobre o assunto, ou mesmo os testemunhos do caso, que direta ou indiretamente perpassam pela história de morte, e forma de sobrevivência da memória.  Tomar como fonte de estudo o caso de Antero é estabelecer um diálogo entre as práticas e representações, pensar a narrativa e a realidade como campos conflituosos, a memória e o testemunho como possibilidade de acesso e sentido do passado, e o tempo como produtor de múltiplos discursos e interpretações sobre o caso.

Em agosto 2013, um projeto teatral ousado vai retratar a história desse homem nos palcos, imortalizando assim uma das histórias mais marcantes da cidade de Catalão, ora de dor e hoje de catarse coletiva. No dia 16 de agosto a Cia Express’arte realizará a estréia do espetáculo “Antero” que retrata a história do santo popular Antero da Costa Carvalho. Será às 00h (do dia 15 para o dia 16) no Anfiteatro Paulo de Bastos Perillo da UFG. Depois o espetáculo será reapresentado nos dias 23/8 (20h), 24 (15h e 20h) e 25 (19h). Participem.